quinta-feira, 11 de agosto de 2011

JULIET, NUA E CRUA

Preço: R$34,00
O campeão volta ao território que o consagrou: a boa e velha cultura pop e como ela influencia a vida de seus personagens. Neste caso, ele foi mais fundo do que em "Alta Fidelidade", incluindo como protagonista um cantor cultuado. Ou seja, dessa vez alguém que faz música, e não somente a consome, também tem seu espaço. Isso abre todo um novo horizonte de reflexões sobre a criação da arte e a interpretação e a influência dela na vida de seus fiéis seguidores. Um território que Hornby domina.

O tal cantor cultuado é Tucker Crowe, um singer/songwriter americano que teve seu sucesso em algum lugar nos anos 80 e, depois de um surto, sumiu do mapa. Algo como Bob Dylan depois do acidente de moto, ou um Jeff Buckley que não morreu, mas deixou um pequeno grupo de fanáticos que esmiúça sua vida em fóruns da internet.

Entre esses fanáticos está o professor Duncan que vive na pacata Gooleness, no interior da Inglaterra, e dedica grande parte de sua vidinha maçante a decifrar a obra e a vida do ídolo, compartilhando seus pensamentos na internet com outros tão malucos quanto ele espalhados pelo mundo. São a exata personificação dos "Dylanogistas", os insuportáveis fanboys estudiosos de Bob Dylan.

Duncan tem um relacionamento sem graça e sem paixão com Annie, diretora do Museu local. Ambos vivem na inércia até que as sobras de estúdio do maior sucesso de Tucker Crowe, o álbum "Juliet", são lançadas sob o título de "Juliet, Naked". Entre outros fatores mais importantes, a diferença de opinião sobre o disco coloca um fim no relacionamento de 15 anos do casal e ainda coloca Annie em contato direto com Crowe, via internet.

Apesar da figura ora patética, ora comovente de Duncan ocupar grande parte das atenções, Tucker e Annie são os verdadeiros protagonistas de "Juliet, Nua e Crua". Ele vive recluso e sem dinheiro lidando com o fracasso de sua vida particular, com o peso dos 20 anos sem produzir nada, aguentando muitas ex-mulheres, negligenciando os inúmeros filhos que teve pelo mundo e tentando recuperar alguma decência com o caçula de 6 anos, Jackson. Ela tenta recuperar os 15 anos que perdeu ao lado de um homem sem sal que dedicava mais amor ao ídolo da música do que a ela. Mesmo com toda a diversão proporcionada pela cultura pop, as referências e a relação sempre bizarra entre ídolos e fãs, "Juliet, Nua e Crua" é em sua essência uma história sobre o tempo perdido.

E é aí que Nick Hornby se diferencia de todo o resto de escritores da tal literatura pop. Porque além de saber usar as referências nos momentos certos e de compreender aquele universo como poucos, Hornby tem uma sensibilidade sem igual para descrever a mente de pessoas como eu e você, que levamos músicas e filmes e livros a sério. Em alguns casos, a sério demais. Se você já foi fã de alguma coisa na vida, vai acabar se identificando com o pateta Duncan em uma mistura de orgulho com vergonha. E você nota como Hornby se diverte em cada página. O prazer com que ele cria a mitologia de Tucker Crowe é quase palpável. O verbete do mito no Wikipédia é um exemplo do autor se divertindo demais com a própria obra.

Por tudo isso, "Juliet, Nua e Crua" é o melhor trabalho do escritor desde "Alta Fidelidade". E eu escrevi isso tudo aqui com medo de soar meio Duncan, mas quem eu quero enganar? Eu já perdi meio dia de uma viagem ao exterior procurando o estúdio onde minha banda preferida gravou meu disco preferido. Eu já me peguei estudando a obra de um artista em ordem cronológica e uso letras de músicas para explicar minha própria vida. E se você está aí lendo este post até agora já pensando o que comentar, admita, você também faz parte deste universo.

Leia "Juliet", reflita, publique sua opinião em algum lugar, brigue com quem discordar e torça pro Nick Hornby te mandar um e-mail um dia
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Post dedicado ao meu amigo André Mendes, que é a pessoa mais próxima da cultura POP que conheço. Beijo, querido! 

Créditos do texto: http://registrodissonante.blogspot.com/2010/06/juliet-nua-e-crua.html 

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