quinta-feira, 11 de agosto de 2011

BREVES ENTREVISTAS COM HOMENS HEDIONDOS

 
Preço Máximo de Mercado: R$62,00
Meu preço: R$45,00 pois foi lido uma vez por mim
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Neuroses, crises, histeria (dramática e hilariante), vícios, dependência e armadilhas narrativas são os pequenos elementos que fazem o livro de contos de David Foster Wallace (1962 – 2008), Breves entrevistas com homens hediondos, única obra do autor norte-americano traduzida e publicada no Brasil1 pela Companhia das Letras em 2005, uma miscelânea de psicoses sobre o amadurecimento de um jovem e comportamento dos homens em relação ao sexo e às mulheres, sobre a vida de um poeta consagrado e de um autor beletrista que tenta criar um conjunto de peças questionadoras.
O livro abre com um conto de meia página em que três personagens não se gostam realmente e apenas mantém as aparências para serem apreciadas uma pela outra. Uma condição no mundo moderno onde é necessário rir de uma piada sem graça para conquistar a simpatia de alguém para, logo em seguida, ir para casa sem o mínimo anseio para um encontro próximo. Na existe nenhuma piada implícita, apenas a sensação irônica de que Foster Wallace quer nos avisar de algo ou que simplesmente está brincando com as convenções atuais. Este tipo de comportamento humano convencionado por regras morais e desconfiança é retratado em O diabo é um homem ocupado. Dois contos que carregam esse título e mostram que altruísmo e egoísmo andam juntos e a ganância pode encobrir ações duvidosas.
Em outro momento a brincadeira parte de um trauma de infância no conto Sem querer dizer nada. Um jovem está na sala de jogos de sua casa quando de repente seu pai entra e começa a balançar o pinto na frente dele. Ele carrega essa lembrança durante anos e nunca questionou o pai sobre aquilo até o dia em que resolveu mudar de casa. Essa história de brigas entre pais e filhos se torna uma narrativa apetitosa e dinâmica, oscilando entre momentos tensos e tristes. Em compensação, A morte não é o fim, trata com extrema sensibilidade ácida os momentos de um poeta consagrado na beira piscina, vivendo do bom e do melhor, a paisagem descrita é desmistificada pelas notas de rodapé (uma marca registrada do escritor) e serve como um desfecho melhor do que aquele apresentado no texto principal.
A pessoa deprimida não é um estudo sobre diversas pessoas deprimidas ou uma personificação da depressão, é uma personagem que tem um tipo de esquizofrenia e como sua história sofre influência do seu principal trauma: a separação dos pais. Outra vez as notas de rodapé exercem um papel importante. Enquanto a história é narrada, os detalhes – indispensáveis ou descartáveis – são enumerados deixando a cargo de quem lê a decisão de saber tudo ou o básico. Para sempre em cima é um conto de amadurecimento, aqui o narrador parece descrever uma seqüência de suspense que se passa em uma piscina pública e seu protagonista subindo degraus até o topo de um trampolim. A voz que relata os fatos parece obrigar ou agir como consciência do personagem, ou seja, quando fala com o leitor também fala com o garoto, figura principal do conto. As descrições aguçam os sentidos – é possível que o cheiro de cloro, bronzeador e cachorros-quente atormentem o leitor.
As entrevistas que intitulam esse exemplar são quatro contos separados em que homens falam sobre sexo – incluindo estupros -, mulheres, relacionamentos e conquistas. Muitas vezes julgando uns aos outros ou descrevendo seus jogos sexuais (um dos mais perturbadores é de um deficiente que usa sua incapacidade para ganhar as mulheres por pena). Nesses contos a linguagem oral é o grande atrativo: frases atropeladas, cacoetes e sotaques. Porém, o principal é criar no leitor a vontade de descobrir qual a pergunta da entrevistadora, o que não é importante realmente, apenas os jogos de interpretação de quem está lendo aquelas respostas cheias de energia, desabafo ou cólera.
Octeto é um dos melhores dessa coletânea. À priori é um jogo em que o leitor tem que responder perguntas éticas sobre um determinado assunto, de amizade ou drogas e até mesmo se uma mãe está certa ao abrir mão da custódia do filho. O trunfo vem quando a questão é voltada para um autor e que na verdade se desenrola no próprio autor, ou seja, em um jogo de isolar-se como personagem o escritor de ficção planeja perguntar coisas para o leitor sem parecer um fraco. Quando descoberto, o jogo não será interrompido, quem lê estará imerso nesse espelho textual ensandecido pronto para estourar uma quarta parede – aquilo que separa o narrador observador e leitor observador.
Existem mais contos incríveis neste livro (Adult World, Igreja não feita com as mãos e Datum Centurio) assim como outros abaixo da média. Todavia, é uma boa porta de entrada para o universo da ficção – cheio de brincadeiras com a linguagem, psicoses, alegorias, intelectualização e vícios – de David Foster Wallace, que critica e choca o leitor de um jeito imprevisível.

PS: O autor se matou em Setembro de 2008




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