O personagem central do livro não é nem o ex-astro nem seu fã ardoroso, mas Annie, a infeliz curadora de um acanhado museu em uma cidadezinha do litoral inglês. Acomodada em um casamento morno com Duncan, ela se torna, vicariamente, uma fã da música de Tucker. Em um momento de desacordo com o parceiro, Annie resolve postar na internet uma resenha desfavorável de um disco com sobras de estúdio de Tucker. O texto chama a atenção do músico – que rompe seu isolamento para se corresponder, por e-mail, com Annie, a essa altura em vias de se separar de Duncan. Hornby trata seu trio de fracassados com uma ironia compassiva; situações que poderiam ser deprimentes ganham sempre um colorido cômico. Os romances anteriores do autor, como Alta Fidelidade, têm sido atacados justamente pela complacência com que mostram o fã de música (ou de esportes) aprisionado em sua eterna adolescência. A crítica é um tanto injusta: neste novo romance, Duncan, o superfã, é retratado como uma figura irremediavelmente ridícula. Logo na primeira página, o leitor o encontra visitando, excitadíssimo, o banheiro infecto de uma casa de shows onde, reza a lenda, Tucker tomou a decisão de abandonar o showbiz.
É quando o romance se detém nas frustrações sentimentais de Annie ou nos casamentos desastrosos de Tucker que a narrativa desanda para a trivialidade, com diálogos e situações típicos daquela comédia romântica que o espectador esquece logo que sai do cinema. Análise psicológica não é a praia de Hornby. Juliet, Nua e Crua traz observações engraçadas e pertinentes sobre o modo como a internet vem mudando a relação dos fãs com a música. A alma do livro – e do escritor – é a deliciosa irrelevância do pop.
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